Blog do Prof.João Baiano

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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Política desacreditada reduz a participação de jovens eleitores









TRE



Foi-se o tempo em que os estudantes se uniam para manifestações contra atos de governos e suas políticas públicas. O movimento estudantil, que nas décadas de 1960, 1970 e 1980 foi marcante na luta contra o regime militar, atualmente está escasso e sem fortes representantes. A última atitude estudantil que entrou para a história foi em 1992, que culminou com o impeachment do então presidente da República Fernando Collor de Mello. A recente manifestação dos estudantes pelo passe livre no transporte coletivo, ocorrida em várias capitais , foi apenas um relâmpago de movimentação política da juventude. Esse enfraquecimento dos movimentos estudantis é comprovado com os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que mostram uma diminuição da quantidade de eleitores jovens no Brasil .

Segundo o TSE, no país, em 1992, quando teve início a contagem de eleitores com 16 e 17 anos – com 18 anos o voto passa a ser obrigatório –, essa faixa etária somava 3,2 milhões de cidadãos. Já neste ano,  esse número é de 2,2 milhões. É 31% menor a população dessa idade que está apta a votar.


Líderes analisam formas de atrair o jovem

O desinteresse dos jovens pela política é confirmado também pelos que fazem parte de movimentos estudantis e de partidos políticos. Para alguns, isso passou a ocorrer porque faz tempo que a juventude não é protagonista de uma grande cena política. Para outros, porque que faixa etária foi maquiada pela mídia. Por outro lado, há os que crêem que se houver candidatos jovens, a situação pode melhorar.

De acordo com Rafael Clabonde, de 19 anos, presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES), a preocupação com a diminuição da participação dos jovens na política é válida e merece atenção total. Segundo ele, 75% da juventude não participa de movimentos políticos. “Falta conteúdo político aos jovens. Ficaram, durante anos, maquiando a juventude, que ela acabou se acomodando. E os meios de comunicação têm culpa nisso, pois tentaram demobilizar a parte crítica da juventude.”

Clabonde diz ainda que os jovens estudantes não têm conhecimento do que vem a ser um grêmio estudantil. “E o acesso dos que participam dos movimentos aos demais jovens é restrito e difícil. Muitos diretores e professores de escolas têm receio de um possível tumulto que os movimentos podem causar. É uma visão retrógrada.”

Já para Fabiana Zelinski, de 25 anos, estudante de Pedagogia e presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE), há ainda uma participação dos jovens na política. “Mas em menor proporção, é óbvio. E tudo porque a juventude não é protagonista de um grande fato político desde 1992, quando houve o impeachment de Fernado Collor de Mello.” Na visão dela, o que ocorreu foi que houve uma grande diferenciação na forma de atuação dos jovens. “Com as organizações não-governamentais e as entidades assistenciais, muitos jovens acham que estão participando de um movimento político.”

Segundo João Arruda, de 31 anos, sobrinho do governador Roberto Requião e presidente da Juventude do PMDB no Paraná, o jovem tem de aprender a discutir política pública para a nação, não só para uma classe. De acordo com ele, no partido no Paraná há 110 mil filiados, sendo que 60 mil têm idade entre 16 e 34 anos. “Para integrar o jovem à política, é preciso fazer com que ele participe e, inclusive, se lance candidato, para ser exemplo para outros e incentivá-los.” Arruda conta que os peemedebistas têm como forma de atrair a juventude para a vida política justamente estimulando candidaturas. (CCL)

O número de eleitores jovens só aumenta quando se contabiliza as idades entre 25 e 34 anos – os partidos políticos somam como jovens nas legendas filiados de até 34 anos. O crescimento no estado, no entanto, foi pífio. Enquanto no país a quantidade desse eleitorado subiu de 25,2 milhões em 1992 para 31,1 milhões em 2008, no Paraná houve uma ascensão de apenas 100 mil (1,5 milhão em 1992 e 1,6 milhão neste ano).

O quadro de jovens filiados aos partidos políticos, outra forma que demonstra a participação da juventude na política, ainda de acordo com o TSE, também é pequeno. Há, no país, 28 siglas partidárias e 128 milhões de eleitores, um crescimento de 16,5% em relação a 2000 quando havia 109 milhões de eleitores. Apenas 10% (12 milhões) estão filiados a legendas políticas. E apenas 575 mil (0,44%) são jovens com idade entre 18 e 24 anos. No Paraná, o aumento de número de eleitores de 2000 para cá foi de 10%. Eram 6,5 milhões e hoje há 7,1 milhões.


Outro dado interessante e representativo sobre o desinteresse da juventude atual pela política é o do Instituto Pólis, que fez um levantamento com oito mil jovens com idade entre 15 e 29 anos e constatou que 75% deles nunca participaram de uma associação estudantil e 96% jamais estiveram, por exemplo, em uma organização não-governamental.

A chefe da Central de Atendimento ao Eleitor do TRE paranaense, Alessandra Luiz, confirma os dados e lamenta a situação, mesmo com o tribunal fazendo um esforço monumental para atrair os jovens para as urnas. “Temos feito uma campanha intensa, tanto no estado quanto no país. Mas percebemos que a procura dos jovens com 16 e 17 anos para tirar o título de eleitor é realmente pequena”, diz ela, contando que os membros do TRE já pensam em fazer um movimento para ir às escolas atrás desse juventude desacreditada e desinteressada.


Para o professor de Sociologia Política e Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), César Bueno, ao contrário das décadas de 60, 70 e 80, quando havia uma esperança por mudança no país, atualmente há uma desilusão. “Nos anos de 1990, a esquerda finalmente assumiu o poder e as mudanças não se concretizaram. Isso levou os jovens a desistirem da política.” Segundo ele, a corrupção foi mais um fator que ajudou a haver tal desesperança. “A juventude viu, percebeu, que a corrupção não era um privilégio de apenas um ou outro partido político. Isso trouxe retração, descrença e insatisfação.”

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